Foi descoberto um tesouro em Londres


"Os trabalhos matinais nas escavações de Liverpool Street decorriam normalmente quando Nick Elston, de 56 anos, responsável pelo projecto arqueológico nas obras da rede ferroviária de Londres, se apercebeu do entusiasmo da sua equipa. Ao aproximar-se, um dos arqueólogos mostrou-lhe uma reluzente moeda de ouro portuguesa de 400 réis, datada de 1721, gravada com uma coroa e a cruz de Cristo e com a inscrição João V. "Encontraram-na no meio do lixo de uma fossa séptica, juntamente com louças e potes do mesmo período. Imagino a frustração da pessoa que perdeu aquela grande moeda de ouro", diz o arqueólogo inglês do Museum of London Archeology. 

No passado mês de Março, a peça do reinado de D. João V (1706 -1750) foi classificada como "descoberta da semana" pela Crossrail, o projecto de expansão de 40 estações e 118 km da via ferroviária londrina – a maior empreitada da Europa –, avaliado em 20 mil milhões de euros. Porém, não pode deixar de ser considerada uma descoberta menor quando comparada com os tesouros desenterrados do subsolo da cidade ao longo da última década. Escassos metros abaixo, foram encontradas as ossadas de mais de 2.000 cadáveres sepultados no primeiro cemitério municipal da capital, conhecido por Bethlem ou New Churchyard. Foi a última morada de todos aqueles que entre meados do século XVI e início do século XVIII não tiveram lugar nos túmulos das paróquias: "Eram dissidentes políticos, hereges, loucos, radicais, vítimas de peste e emigrantes", resume Elston. "A análise dos seus restos mortais vai permitir-nos saber mais sobre a peste bubónica, que nesta época matou um terço da população da cidade. Também vamos poder saber se já havia em Londres gente da América ou de África, se bebiam ou fumavam, e, através da observação de fracturas ósseas, no que trabalhavam e como morreram." 

Exposição este ano 
Como a maioria dos corpos foram enterrados em valas comuns, apenas cinco lápides com nomes inscritos foram encontradas. Margaret Clark, por exemplo, foi ali sepultada a 17 de Fevereiro de 1683, com 80 anos; sobreviveu à Grande Epidemia de 1665, ao Grande Fogo de 1666, assistiu à introdução do chá e foi contemporânea de Shakespeare, Cromwell e Isaac Newton. 

Centenas de voluntários – mais uma equipa de 60 arqueólogos liderada por Jay Carver – trabalham seis dias por semana e foram destacados para investigar nos arquivos a quem podem pertencer aqueles ossos: Nick Culpeper, um célebre botânico perseguido pelo clero e o idolatrado revolucionário Freeborn John estão entre eles. As escavações terminam em Setembro e estima-se que já no fim de 2015 todos os achados possam ser apreciados numa exposição no Museu de Londres."

Fonte: Revista Sábado